REINADO CONTINUA
REBELDE DESCONTENTE A COLHER APOIOS E BEM ARMADO
Viajar por Timor-Leste é sempre um regalo para os nossos olhos em termos paisagísticos mas o mesmo não se pode dizer sobre a desagradável sensação de que os timorenses estão a sobreviver cada vez com mais dificuldades e que a nível da capital, dos poderosos, pouco ou nada está a ser feito para colmatar esta evidente queda para o inferno da ultra pobreza em que a maioria dos timorenses sobrevive.
Ouvimos frequentemente o Presidente Ramos Horta afirmar que vão ser tomadas medidas contra a miséria crescente em Timor, mas nada é sentido ou visto que nos possa alimentar a esperança de que isso vai acontecer a curto prazo.
Se o PR promete mas não faz lá terá a suas razões. Na realidade não é a ele que compete tomar essas medidas imediatas mas sim ao governo inoperacional, até agora, de Xanana Gusmão.
Há fome e muita miséria, não duvidem. Basta viajar pelo país para verificar que assim acontece.
É espantoso como os correspondentes internacionais das agências noticiosas deixam esta realidade passar-lhes ao lado. Mais espantoso é o silêncio da Igreja, dos Bispos e padres que, anteriormente, por dá cá aquela palha contestavam a torto e a direito.
O descontentamento dos infernizados pela miséria, que alimenta as elites políticas em Díli, assim como o Clero, vai produzindo as sementes de revolta que estão a fecundar os apoios a Alfredo Reinado.
Ainda ontem Reinado perguntava a um grupo de timorenses que o apoia sem saber muito bem porquê: “Então mas somos independentes para estarmos a viver tão mal e com o país ocupado pelas tropas estrangeiras?”. E mais à frente: “A quem servem as tropas estrangeiras, a nós?”
Era evidente a sua desaprovação pela quantidade de militares, principalmente australianos, que ocupam o país, mas igualmente evidente foi a pergunta fácil que deu que pensar: “Agora não é a Fretilin que governa. Votámos e escolhemos quem pensámos estar do nosso lado, do lado do povo, mas já passou algum tempo e cada vez estamos piores, cada vez estamos mais entregues aos estrangeiros.”
“Nem Horta nem Xanana mostraram saber olhar para o povo. Desde que foram eleitos que não deram provas de olhar para vós. Eles não olham para o povo!” – rematou.
Prosaico, Reinado teve ali o seu mini-comício para quem o quis ouvir, na zona de Manufahi, bem armado, como compete aos heróis em permanente alerta e a respirar desconfiança pelos que lhe prometem mas não cumprem.
As suas palavras deram o que pensar e certamente que colheram sentimentos favoráveis, cativaram a plebe.
Assim, não admira que o comecem a elevar novamente à estatura de herói e que o apoiem muito mais.
Na realidade Reinado acaba por ter razão. O grande suporte deste Presidente e deste governo timorense são os militares australianos. Isso incomoda-nos. Sabermos que elegemos indivíduos para órgãos soberanos que não fazem outra coisa que não seja rodearem-se de estrangeiros que os mantenham nas suas cadeiras poderosas.
Cada vez mais eles cavam o fosso existente entre nós, plebe que daqui quase nunca saiu, e os que dominam os descontentes e martirizados que somos.
Certo, certo, é que o Presidente Ramos Horta tem-se encontrado com Alfredo Reinado e não tem levado a melhor.
Não consegue convencê-lo a "confiar nos que o traíram" – diz Reinado.
Os cambalachos que com Reinado foram feitos por Xanana e por Horta – o não cumprimento do prometido e o rumo tomado - terão certamente sido o motivo porque o evadido Alfredo continua reticente e quer “dar tempo ao tempo”, como diz, afirmando que está “cá e de saúde para ver, ouvir e agir”.
Que terão, Horta e Xanana, de provar a Alfredo Reinado? Porque temem Reinado?
Por Alfredo Ximenes
Fonte: tirado no Blog Manufahi, 3.09.2007
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