
Díli, 01 Mai (Lusa) - O ex-tenente Gastão Salsinha, principal arguido no processo dos ataques de 11 de Fevereiro, afirmou hoje à saída do Tribunal de Recurso, em Díli, que pretende regressar às Forças Armadas de Timor-Leste.
"Durante dois anos, eu sempre me mantive como militar. Depois disso, só o juiz é que pode resolver se eu sou civil ou militar. Neste momento eu ainda
sou militar. É a minha profissão", afirmou Gastão Salsinha aos jornalistas no Tribunal de Recurso.
Gastão Salsinha foi colocado hoje em prisão preventiva pelo juiz internacional Ivo Rosa, do Tribunal Distrital de Díli, responsável pelo processo relativo ao duplo ataque de 11 de Fevereiro contra o Presidente da República, José Ramos-Horta, e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
Ivo Rosa realizou uqarta-feira e hoje, nas instalações do Tribunal de Recurso (o Tribunal Distrital encontra-se em obras), o primeiro interrogatório judicial a Gastão Salsinha e a cinco dos homens que estiveram com ele fugidos durante quase três meses.
"A razão de me apresentar aqui é a minha própria declaração", explicou Gastão Salsinha aos jornalistas, no final do interrogatório, falando sempre em língua tétum.
"Bem ou mal, estou pronto para enfrentar a justiça", acrescentou o ex-líder dos peticionários das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).
"No mês de Março, cheguei a acordo com o Procurador-Geral da República, Longuinhos Monteiro, e com o Presidente da República interino, Fernando 'La Sama' de Araújo, para me entregar quando o Presidente José Ramos-Horta chegasse da Austrália", explicou Gastão Salsinha.
"Entreguei-me ao Presidente Ramos-Horta, não me entreguei ao comando conjunto", sublinhou o ex-oficial.
Gastão Salsinha acrescentou, aliás, que não se entregou antes de 25 de Abril porque estava cercado pelas forças das F-FDTL e da Polícia Nacional timorense e não queria render-se a eles.
"Eu, Salsinha, não vou entregar-me a ninguém. Mas com a vinda do Presidente da República fiquei pronto para entregar-me, primeiro à igreja, ao centro Human Development (uma organização não-governamental de resolução de conflitos) e à comunidade que me acompanhou", disse o líder dos fugitivos de 11 de Fevereiro.
"Eles é que me acompanharam, não foi a operação conjunta que me capturou", repetiu Gastão Salsinha, acrescentando que não queria revelar a forma como se manteve quase três meses em fuga.
"Eu escolhia um esconderijo onde a operação conjunta não podia chegar. É uma táctica militar. Só eu sozinho é que posso saber onde posso esconder-me. Não posso dizer se estive em Suai (sul), em Díli (norte) ou Maliana (oeste). Só eu é que sei o esconderijo", afirmou Gastão Salsinha.
Nem Salsinha nem nenhum dos co-arguidos prestou declarações em tribunal.
"Ninguém falou", resumiu o juiz Ivo Rosa à saída do interrogatório.
"Neste momento, não posso dizer nada", explicou Gastão Salsinha às perguntas sobre se esteve ou não envolvido no 11 de Fevereiro, como é acusado.
Gastão Salsinha, que, com os quase 600 peticionários que liderou em Janeiro de 2006, foi expulso das F-FDTL dois meses depois, pretende regressar à vida militar.
"Apesar do desentendimento dos peticionários não quer dizer que não amamos o nosso quartel. Isso não quer dizer que não amamos a instituição F-FDTL", disse Gastão Salsinha.
"Mas nós tínhamos discriminação entre 'lorosae' e 'loromonu' (e por isso) é que deixámos" os quartéis, em Fevereiro de 2006, afirmou o antigo líder dos peticionários, recordando a acusação de problemas entre militares oriundos dos distritos orientais e ocidentais do país.
Gastão Salsinha acrescentou, no entanto, que "neste momento apareceram outras coisas", sem adiantar a que se referia.
"Eu não estou arrependido pelo problema da crise. O problema é de quem está a governar a nação", concluiu Gastão Salsinha quando questionado sobre o que sente após a acusação de envolvimento no ataque ao primeiro-ministro.
"Justo ou não justo, este é o começo" do exame dos acontecimentos pela justiça, disse também Gastão Salsinha.
O juiz aplicou aos seis arguidos a medida de prisão preventiva. Outros sete elementos do grupo de Gastão Salsinha, que se renderam na região de Letefoho, Ermera (oeste) e foram trazidos segunda-feira para Díli, estão em liberdade.
"Estão decerto em liberdade ou, se estiverem presos, estão em prisão ilegal. Não vieram sequer ao Tribunal (ser interrogados) porque não pendia sobre eles nenhum mandado de captura", explicou o juiz Ivo Rosa à agência Lusa no final do interrogatório de Gastão Salsinha.
Nem o juiz do processo nem o Ministério Público, através do procurador Felismino Lopes, sabiam para que prisão iam seguir os seis arguidos, uma vez que essa é uma decisão do Ministério da Justiça.
Outros suspeitos de envolvimento nos ataques de 11 de Fevereiro, que se renderam antes e receberam a mesma medida de coação, têm sido colocados na messe de oficiais em Colmera, no centro de Díli.
Este edifício é usado como a instalação prisional de alta segurança criada pelo Governo no final de 2007, até à construção de uma prisão de raiz.
Segundo uma fonte do comando conjunto da operação "Halibur" de captura dos fugitivos, o grupo de Gastão Salsinha foi levado para o edifício de Colmera, e não para o Estabelecimento Prisional de Becora.
Sem comentários:
Enviar um comentário